Fico impressionado com a falta de inteligência de eleitores norte americanos que estariam dispostos a votar nos Democratas, mas recusam votar no Joe Biden por causa da idade. Das inúmeras razões pelas quais penso isto, destaco duas, uma baseadda em trauma nacional e outra puramente lógica.
Numa semelhante demonstração de pouca inteligência colectiva, fui confrontado com um argumento semelhante em Portugal em 2009. Na altura a cândidata era Manuela Ferreira Leite e eu ouvia da boca de pessoas, algumas das quais eleitorado natural da área da social-democracia, que não conseguiam votar na Manuela Ferreira Leite porque era “velha e feia”. Como resultado, o país escolheu José Sócrates, que jovem e bonito levou o país à bancarrota. É o resultado de julgar o livro pela capa. Passada década e meia, conheço muito poucas pessoas que admitem alguma vez terem dito tal coisa e que tenham votado em José Sócrates. De repente temos um arrependimento colectivo envergonhado, quase que tornando um absoluto mistério matemático a forma como ele conseguiu a vitória. A “velha e feia” ainda cá anda e com estaleca para acompanhar Ricardo Araújo Pereira no seu programa de humor (quem não perceber a evidente ligação entre a capacidade de produzir humor e inteligência escusa de ler o resto porque não tem capacidade intelectual para acompanhar o que se segue).
Vamos ao segundo motivo, o tal que é baseado em lógica. Donald Trump será um ditador. Não há a mínima dúvida. Só quem não está no seu perfeito juízo pode pensar que 6 de Janeiro não foi um golpe de estado que falhou unicamente porque Mike Pence agiu correctamente nesse dia e as restantes instituições democráticas aguentaram-se por uma unha negra. Acontece que desta vez Donald Trump não vai falhar. Vai minar as instituições com os seus caciques, a começar com a escolha do seu novo vice-presidente, J.D. Vance. O objectivo é simples: No próximo 6 de Janeiro já não será vice-presidente um instucionalista como o Mike Pence, mas um fiel convertido ao culto MAGA. A probabilidade de as instituições aguentarem será praticamente inexistente. Isto significa que se os eleitores americanos escolherem Donald Trump, o mau, porque Joe Biden, o velho é demasiado velho (e se fosse mulher, acrescentariam “e feia”), terão Donald Trump não durante 4 anos, mas durante o tempo que restar de vida a Donald Trump (não me venham com o limite de 2 mandatos da constituição que na altura será letra morta, sobretudo considerando a vergonha que têm sido as decisões recentes do supremo tribunal dos Estados Unidos). Vamos a contas. No dia 5 de Novembro, Joe Biden terá 81 anos. Se Trump ganhar as eleições e viver mais 4 anos, será garantidamente presidente por pelo menos um terceiro mandato. Nas eleições do dia 7 de Novembro de 2028, Donald Trump terá 82 anos, mais velho que Joe Biden é hoje.
Portanto, quem votar em mau em vez de velho terá garantidamente mau e velho daqui a 4 anos (se lá chegarmos). É preciso ser muito estúpido!
Voltando a Portugal, não menos estúpidos são os que apoiam Donald Trump e os seus seguidores do Chega, partido esse que diz tanto apoiar a Ucrânia, mas cuja máscara só não cai aos olhos dos seus simpatizantes com os acontecimentos recentes por causa do seguidismo acéfalo dos mesmos. Estou, evidentemente a referir-me ao casamento entre o Chega e o partido russófilo Fidesz, bem como e à abstenção com a qual Tânger Correia votou a proposta de mais apoio à Ucrânia no Parlamento Europeu, em vez de ter votado a favor. Infelizmente lógica e razão já não têm qualquer tipo de tracção com os fieis destes cultos.